08/05/2016 Por JP Resende

Como comecei o Hotmart

Tudo tem um começo e esta é uma das perguntas que eu mais ouço, então penso que faz sentido em algum lugar deste blog eu contar esta história. Aqui vai…

Em uma época onde startups ainda eram chamadas de empresas, eu criei minha primeira empresa. Juntamente com dois amigos de faculdade, nós queríamos desenvolver “apps” conectados à internet, jogos multiplayer, e soluções baseadas em geolocalização. Só que havia alguns problemas… E eles começavam pelo ingrato fato de estarmos em 2004, ano em que:

  • Celular com tela colorida era artigo de (super) luxo
  • Celular com 3G não existia, muito menos com Wifi. O melhor que tínhamos era conexão GPRS. E olhe lá.
  • GPS em celular era apenas um sonho. Nossas ideias de apps que usavam geolocalização contavam com estratégia de obtenção de posição das pessoas através de triangulação de antenas de celular. Agora, imagine a boa vontade das operadoras de celular para nos deixar usar essa informação…

Mas, além de estar querendo fazer coisas um pouquinho à frente do tempo, a situação ainda ficaria mais difícil…

Nós éramos três fundadores técnicos, formados em ciência da computação, dotados de muito conhecimento técnico, muitas ideias e nenhuma capacidade comercial ou habilidade em marketing. Em outras palavras, significa que nós conseguíamos construir coisas, mas não conseguíamos vender coisas.

A solução era óbvia: precisávamos encontrar alguém para vender nossos produtos e serviços. E foi o que fizemos.

Nos juntamos com uma agência de publicidade que ficaria responsável pela parte comercial e marketing. Um dia posso entrar em detalhes de como foi isso, mas para tornar a história curta, essa foi uma das piores decisões para minha primeira empresa e uma das melhores decisões para o meu crescimento pessoal.

No final das contas, a minha empresa fechou as portas 2 anos e meio depois. Muita frustração. Eu realmente acreditava que conseguiria construir um grande negócio, desenvolver tecnologias incríveis e impactar milhares, talvez milhões de pessoas, com minhas criações. Não rolou.

Saímos com o saldo zero da primeira empresa. Na verdade, amargamos algum prejuízo, porque alguns dos cheques que tínhamos para receber simplesmente não compensaram. Na minha cabeça, não restava nada de diferente a ser feito que não fosse ir para o mercado de trabalho, juntar algumas economias e voltar a empreender em um segundo momento, no futuro.

Mas agora o jogo era outro. Minha primeira empresa me ensinou exatamente uma das lições que eu precisava aprender: nunca delegue o comercial e o marketing da sua empresa para um terceiro.

Eu sabia que, até chegar a hora de empreender novamente, vendas e marketing eram as habilidades que, sendo um programador, eu precisaria desenvolver… Mais tarde eu iria finalmente entender o quanto é vantajoso um empreendedor fundador ser mais generalista do que especialista, mas isso é outro assunto.

E aí começou minha carreira dentro de várias empresas de software de Belo Horizonte, onde passei por praticamente todas as posições: desenvolvedor, líder técnico, arquiteto de sistemas, gerente de projetos…

Em paralelo à carreira corporativa no software, eu administrava em conjunto com outros três amigos uma comunidade de jogadores online. Sempre fui um gamer assíduo, apaixonado especialmente por jogos de RPG online. De fato, eu devo aos jogos boa parte da minhas habilidades, minha formação e meu modo de ver as coisas. Penso que um dia valeria a pena escrever só sobre isto, mas vamos deixar para depois. Por hora, é importante dizer que, por causa desse interesse em comum com meus amigos de jogos, havíamos organizado o site e um fórum de discussão sobre os games de que nós gostávamos mais.

O site estava crescendo e em determinado momento concluiu-se que estávamos prontos para iniciar a parte de marketing e monetização. Tive aquele momento “A-ha” onde tudo se conecta na sua cabeça e prontamente puxei esta responsabilidade para mim. Era a minha chance de aprender marketing e vendas: as duas coisas que faltavam em mim e que tiveram a maior contribuição na morte da minha primeira empresa.

Eu estava sedento por aquilo e ia usar a oportunidade para aprender o máximo que pudesse. E foi o que eu fiz.

Aquele foi um dos meus maiores períodos de aprendizado e foi ali que esbarrei pela primeira vez com conceitos que seriam base da minha próxima empresa, como, por exemplo, os programas de afiliados. No final, meu aprendizado gerou um e-book sobre tráfego na internet, que culminou na minha primeira experiência com a venda de um produto digital. Alguns anos depois, eu estava lá, criando a Hotmart para resolver todos os problemas que eu mesmo vivenciei ao vender meu próprio produto digital.

Em fevereiro de 2011, eu e meu sócio pedimos demissão dos nossos empregos para nos dedicarmos fulltime à empresa que, naquele mês, tinha batido recorde de faturamento: R$182. É isto mesmo, “cento e oitenta e dois reais”… Não estão faltando 3 zeros ali não…

Em abril de 2011, lançamos a Hotmart em cima de tudo que eu aprendi de tráfego e marketing digital na época em que estava estudando para o site de jogos e vendendo meu ebook. Quatro meses depois vencemos a maior competição de startups do Brasil naquele ano: Sua Ideia Vale 1 Milhão, criada pelo Buscapé.

Quando decidi pedir demissão e dei o “All in” na minha startup eu sabia que o risco seria alto, especialmente para nós que estávamos criando um negócio em um mercado praticamente inexistente naquela época, mas eu também sabia que era o único jeito de fazer acontecer de verdade. Ou vai ou racha.

De lá para cá descobri que o aprendizado estava só começando. Passamos por dois processos de investimentos, saímos de 0 para 120 funcionários (na data em que escrevo para vocês), no meio disso tudo, diferente de grande parte das startups, demos lucro, e por fim, transformamos a Hotmart em uma empresa global. Em meio a tudo isso, ainda criamos com nossos amigos da Rock Content e Deskmetrics o que hoje é conhecido como o vale do silício brasileiro, ou simplesmente, San Pedro Valley. Até agora tem sido uma jornada intensa e de muito aprendizado.

Eu acredito que as pessoas que podem causar impacto a ponto de melhorar o mundo são aquelas que de fato conseguem viver fazendo algo pelo qual elas são verdadeiramente apaixonadas e que está dentro da sua zona de genialidade. Algumas vezes falta apenas uma certa dose de coragem ou conhecimento para alguém dar o próximo passo e chegar nesse ponto. Foi por isso que aceitei o convite de escrever para vocês aqui. Se eu puder ajudar um empreendedor a melhorar as coisas à sua volta, já terei ficado satisfeito.

Se você tem alguma dúvida, sugestão de tema, ou se quiser contribuir com a discussão sobre este artigo, deixe sua mensagem nos comentários! Até a próxima 🙂


Texto originalmente publicado por mim no Blog Big Idea.

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