12/10/2016 Por JP Resende

Você está errado.

Eu não te conheço, mas a única coisa que eu sei, é que você está errado.

Hoje, duas coisas aconteceram que me levaram a fazer uma rápida reflexão. A primeira, foi que eu me esbarrei com um texto criticando startups e traçando uma caricatura do que seria um “ambiente startup”. A segunda, foi que uma pessoa, com a qual eu me importo muito, disse que não entrava de cabeça em algo que ela gostaria de fazer, porque tinha medo de ser criticada por outras pessoas.

E eu até entendo. Nos dias de hoje, o que não faltam são aqueles “juízes das redes sociais”, que não costumam fazer muita coisa, mas adoram criticar os outros. E isso vale para qualquer coisa que você se envolva.

As pessoas criticam as grandes corporações e sua burocracia, seu engessamento e postura que inibe novas ideias e impede mudanças. Ao mesmo tempo, muita gente mete o pau em empresas estatais, ineficientes ao extremo, cabide de empregos e tudo mais. E claro, não podia faltar gente que critica o jeito aberto e “livre demais” das startups, o excesso de comemorações e de mudanças frequentes no dia a dia.

Muitos criticam a carreira corporativa, e outros criticam a carreira no serviço público. Há ainda os que falam que trabalhar em startup é perda de tempo; a chance de crescimento não compensa o risco de, uma hora pra outra, a empresa fechar.

Há quem fale mal do Papa, do Chico Xavier, do Pastor X, Y, ou Z. Há quem diga que só vai para o Paraíso, aqueles que seguirem a referência religiosa A, B, ou C. Ou seja, independente de qual religião você escolher (ou, se não escolher nenhuma), aos olhos de alguma outra religião, em algum lugar do mundo, você não estará qualificado para ir para o Paraíso. Resumindo: você estará errado de qualquer jeito.

A Esquerda está errada por querer fortalecer o poder do Estado, segurar com dinheiro do indivíduo e entregar para o governo fazer a distribuição conforme seus critérios, em pról de um país melhor. A Direita está errada por querer menos Estado, mais poder de decisão para o indivíduo e deixar com que o fluxo da economia gere o equilíbrio para termos um país melhor. Se você está mais ao Centro, você também está errado, porque é um indeciso sem opinião. Se não se envolve com política e não quer saber deste assunto, você está errado. Se você se envolve com política, você está errado também, por ser algo que não tem solução mesmo.

Se um jovem decide ser jogador de futebol, ou montar uma banda ele está perdendo o tempo, porque isto é para poucos e não leva a lugar nenhum. Se o jovem se torna um Neymar, ou um U2, é injusto porque não fizeram nada para ganhar um “salário” tão alto, enquanto todo mundo tem que estudar e trabalhar a vida inteira.

Se você fala que vai ser YouTuber, Blogueiro, ou (Game) Streamer, vão dizer que você vai ficar passando vergonha à toa e que isto não é trabalho. Se você der muito certo, vão dizer que você aliena os outros e polui a cabeça dos jovens… mas não sem antes dizer que você teve sorte.

Se você é taxista vão dizer que é burro, porque não está no Uber. Se você é Uber, alguém vai dizer que você é burro porque é clandestino.

Se você quer alugar um apartamento, ao invés de comprar, você está errado porque vai ficar jogando dinheiro fora em algo que não é seu. Se você quiser comprar um apartamento, você está errado também, porque com o valor do imóvel aplicado você geraria renda passiva suficiente para pagar um aluguel e ainda botar dinheiro no bolso todo mês.

Há quem reclame que as faculdades estão desatualizadas, ensinando coisas ultrapassadas para os alunos. Há quem reclame que hoje qualquer um pode ensinar o que sabe e aprendeu no mercado, na vida, com os erros próprios, mesmo sem ser do meio acadêmico.

Se você quer montar uma startup, você está indo no hype do “glamour das startups”. Se você é de tech e não quer montar uma startup, você não está realizando seu potencial máximo. Se você montou e vai tentar bootstrapping, você está errado porque vai ficar sem dinheiro antes de encontrar o seu product/market fit. Se você vai buscar investidores, está errado também, porque está vendendo parte da empresa muito cedo.

Se você cria uma empresa e ela quebra, você fez tudo errado e vai ouvir um monte “viu, eu não te avisei”. Se você cria uma empresa e ela dá muito certo, você faz parte do “empresariado brasileiro”, capitalista que só pensa em lucro e certamente você deve estar fazendo alguma coisa escusa, ou está explorando os outros. Ah, e é claro, neste último caso, você “teve sorte” também.

Todos nós concordamos que a vida humana é o bem, a benção, o presente, mais valioso que podemos ter. Se deixarmos uma vida humana se esvair sem tentarmos salvá-la, estamos errados. Se tentarmos eliminar todas as doenças do mundo e prolongar a vida do ser humano para que ele viva indefinidamente, também estaremos errados, pois estaríamos de brincando de Deus, ou contribuindo para o fim dos recursos do nosso planeta.

Se você fala de você, é egocêntrico. Se você fala dos outros, é fofoqueiro. Se você não fala nada, é um alienado.

Enfim, se você analisar bem, a única coisa que fica mais protegida de críticas é o mediano, porque até mesmo se você não fizer nada, você será criticado. Mas o mediano não. Aquele que fica mais ou menos no padrão de como tudo funciona é o melhor protegido das críticas e julgamentos de certo e errado. Aquele, que está confortável, bem ali sentadinho em cima do status quo.

O cenário hoje é este. Se você fizer alguma coisa que de fato saia do padrão e se torne relevante para alguém, saiba que haverá gente para te criticar e falar que você está errado. E nem importa muito o que você esteja fazendo, para algumas pessoas a única coisa que importa é se alimentar das críticas que elas lançam sobre as outras.

Portanto, se quiser um conselho, eu diria para escolher o que te traz realização pessoal e ir atrás. Enquanto você sentir que genuinamente está fazendo o bem, tudo estará ok. E se em algum momento quiser mudar algo em sua vida, ou tentar algo novo, vá e pronto. Afinal de contas, você sempre estará errado mesmo.

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