Antes que perguntem: não. Nenhuma palavra deste post foi escrita por ChatGPT (ou qualquer IA). Não que para um artigo desse tipo isso seja um grande demérito, mas, além de ser simplesmente a verdade, aproveito para fazer uma previsão logo na largada: no início da transição que começamos a viver agora, parte das pessoas sentirão necessidade de saber (e de dizer) quanto de IA foi empregado em um determinado trabalho. Especialmente se forem trabalhos criativos em formatos longos (como filmes, livros, documentários, etc). Mas, deixemos esta anedota de lado e sigamos adiante.
IA é um assunto que naturalmente faz parte do meu dia a dia e toma cada vez mais parte da minha banda mental, seja porque estamos construindo produtos de IA, seja porque filosoficamente me interessa entender, o quanto antes, os desdobramentos do que vem por aí… ainda que isso seja uma tarefa com considerável margem de erro. O que você verá aqui é uma lista (não exaustiva) de hipóteses e repercussões, mas optei por selecionar estes temas por serem bem próximos do mercado em que estamos trabalhando.
OK. Sem mais delongas, vamos lá.
Nos próximos anos…
Criadores de conteúdo serão cada vez menos “Atores” e cada vez mais “Diretores” em suas produções: O equipamento de captação de um vídeo deixará de ser uma câmera e tripé, e passará a ser, em 99% dos vídeos produzidos na internet, o prompt associado a um avatar do criador de conteúdo. Caberá ao criador de conteúdo “dirigir” suas IA’s para produzirem algo que seja do seu gosto, da sua vontade, do seu estilo preferido e claro, com o conteúdo que ele quer transmitir.
Todos os perfis (pequenos ou grandes) de redes sociais relevantes serão verificados: A internet anônima está chegando ao fim. Na medida em que todos produzem conteúdo usando IA, será necessário atribuir claramente todos os perfis a seus controladores humanos, inclusive identificando quais daqueles avatares estão vinculados a um ser humano real. Isto será uma enorme discussão, pois os “efeitos colaterais” disso são muitos, porém, vejo como um passo quase inevitável para auxiliar humanos a não se perderem entre o que é real (ou possui lastro na realidade), e o que só existe no mundo digital. Em um mundo onde cresce a pressão por regulamentação das redes sociais, o conteúdo gerado por IA será um grande empurrão para um KYC muito mais forte nas redes sociais. E a propósito, a foto/vídeo que você terá que tirar durante seu cadastro, será a base para gerar seu avatar naquela rede social.
As pessoas continuarão vendendo, e as pessoas continuarão comprando informação/conteúdo, mesmo que haja 1.000.000x mais conteúdo na internet do que existe hoje: Hoje, absolutamente todos os conteúdos pagos que são comercializados na internet, têm suas versões gratuitas, ainda que com organização diferente. O que faz alguém comprar, primariamente, nunca foi, não é, e não será, a inexistência ou ineditismo do conteúdo em si, mas a forma de empacotamento e, principalmente, a validação de alguém que o produziu (ou consumiu), e está disposto a entregar sua credibilidade à ele, atestando sua utilidade e valor. A curadoria/filtro de alguém real é, e continuará sendo valor, mesmo em conteúdos gerados por IA. Além disso, os produtos de informação e conteúdo tendem a dar um salto de qualidade absurdo, tornando-se mais inteligentes, interativos e capazes (inclusive de executar tarefas), e portanto, oferecendo ainda mais valor.
IA irá impactar dramaticamente a estrutura de alocação de recursos das empresas, e irá fazer com a alocação de recursos para mão de obra, algo semelhante ao que foi feito pelas redes sociais com o alocação de recursos para distribuição (mídia): Se antes era impossível para uma empresa acessar grandes audiências e veículos de mídia em função do custo de entrada ser proibitivo, agora será possível acessar grandes quantidades de “mão-de-obra” a custos muito acessíveis. Isto não necessariamente significa que as empresas gastarão menos com mão-de-obra, assim como não significa que as empresas gastam menos com distribuição nos dias de hoje, porém a forma de alocação desse dinheiro irá mudar.
Gestores de Tráfego não vão morrer, e Influenciadores ficarão (muito mais) podres de ricos: à medida que uma inundação de conteúdo gerado por IA ocupa cada vez mais a internet, conseguir emplacar um conteúdo organicamente em meio ao mar infinito de conteúdo de IA, será tarefa quase impossível. O grande critério para exibir conteúdo será o mais simples de todos: dinheiro. Se você paga, você aparece, se você não paga, seu conteúdo no máximo será distribuído para suas conexões pessoais (exemplo: grupos de proximidade real, como grupos de whatsapp da família, do trabalho, amigos). Aqui entram duas exceções. A primeira é a sua lista de clientes e leads próprios, os quais você precisará construir em um lugar que lhe permita ter acesso total para se comunicara diretamente com eles, fora de um ambiente “algoritmizado” (ex: contato direto por e-mail, número de telefone ou push). A segunda exceção serão Comunidades fechadas, ativas, reservadas a humanos, que ainda conseguirão oferecer alguma vantagem no custo por engajamento. Daí entra a grande vantagem competitiva dos Influenciadores, que terão facilidade maior para construir essas comunidades. Quanto aos Gestores de Tráfego, quanto mais difícil for gerar tráfego orgânico, mais competição haverá no tráfego pago e, portanto, mais caro ele tende a ficar. Isso significa que por mais que o trabalho do Gestor de Tráfego venha a mudar, o papel do “alocador de recursos em mídia” continuará existindo nas empresas para operar as IAs envolvidas no processo de aquisição de clientes.
Branding (incluindo Personal Branding) será mais importante do que nunca para diferenciar-se diante da multiplicação exponencial de novos entrantes: com a atenção cada vez mais difícil de ser conquistada estar na cabeça do cliente será ainda mais indispensável. E amanhã isso custará mais caro do que hoje. A forma principal de cortar esse caminho, será via influenciadores, que é justamente o ponto que fiz na previsão anterior: o dinheiro que fluirá para as mãos de influenciadores na era da IA, será absurdamente maior do que o que vimos até aqui.
Uma nova onda de (empreendedores) criadores de conteúdo irá surgir: à medida que os trabalhos vão sendo reinventados e o acesso à “capacidade de produção” aumenta, cada indivíduo tende a ser capaz de fazer muito mais, com a necessidade de uma infraestrutura de produção muito menor. Estes dois fatores resultarão em um modelo de trabalho cada vez mais “independente”, baseado em projetos, versus um modelo de trabalho “dependente”, baseado em carreiras dentro de um empregador, disparando assim uma onda de empreendedorismo nunca antes vista. Nela, uma geração inteira de novos criadores de conteúdo irá surgir, seja por necessidade de promover seus trabalhos e habilidades, seja por oportunidade, uma vez que produzir conteúdo de qualidade será cada vez mais possível para um indivíduo comum, começando do zero.
Esta foi a lista de hoje.
Talvez, mais para frente, eu volte e faça uma segunda parte desta lista. As peças estão se movendo rápido e tenho certeza que apesar de existir uma aceleração destas mudanças, alguns fatores de desaceleração podem surgir no meio do caminho, como por exemplo, limitação de supply de hardware, limitação de dados disponíveis para avançar o treinamento dos modelos, regulamentações, e claro, questões geopolíticas.
O que você acha? Concorda com estes pontos? Discorda? Qual dos pontos deixa você mais animado, ou mais preocupado? Deixe-me saber nos comentários.
Texto poderoso, JP. 👏
O ponto que mais me provocou foi o da “verificação universal dos perfis”.
A tendência parece inevitável, mas fico me perguntando: e se a consequência não for só mais “segurança e autenticidade”, mas também uma nova escassez de anonimato criativo?
A história da internet mostra que muitos dos maiores movimentos culturais nasceram no submundo do pseudônimo. Reddit, 4chan, fóruns, Twitter pré-Elon… o próprio movimento da creator economy se beneficiou do “teste sem exposição”.
Se o futuro exigir identidade civil para criar, será que não perdemos parte importante da experimentação e inovação que só o anonimato permite?
Será que esse novo “KYC criativo” pode acabar espantando os talentos mais disruptivos, que hoje criam no underground e amanhã poderiam ser os grandes nomes da creator economy?
Deixo essa pergunta em aberto porque, como você bem disse, as peças estão se movendo rápido. Mas talvez uma próxima fronteira não seja apenas identificar quem é humano, mas permitir que humanos testem ideias com menos medo de exposição – mesmo num mundo verificado.
Deixo essa provocação porque seu texto acende exatamente esse tipo de reflexão: o que a gente pode ganhar, mas também… o que a gente pode estar prestes a perder.
Obrigado por compartilhar tanto pensamento estratégico de forma tão acessível. Abs!
João Vítor Barbosa Tafuri (@joaovitortaf)
Sua pergunta é excelente, e eu temo não ter uma resposta exata para ela. A discussão de privacidade na internet é extremamente importante e existem muitas implicações positivas e negativas em cada decisão relacionada a isto. Não é um assunto fácil. Teremos que acompanhar e participar no que couber.
Muito boa a Análise JP.
Tenha certeza que sua visão irá ajudar muito. Tenho certeza que a Hotmart está preparada para tudo que está por vir e irá nos ajudar na jornada.
Uma previsão muito coerente e que me animou muito o último ponto.
Visto que hoje eu tenho uma incubadora de expert, em que eu ensino profissionais especializados a criarem seu método e lançarem seu curso online.
E para todos os alunos eu enfatizo, encorajo e levo propostas de ferramentas de IA para que os respectivos métodos cheguem no digital competitivos.
Pensa: você chega no digital sem audiência, sem autoridade e vai disputar com quem está aqui sem trazer uma ferramenta diferenciada com uso de IA? É perda de tempo!
Aliás, é a hora de aproveitar que usar IA ainda é um diferencial.
Quero a continuação desse lista!
Obrigada e mais sucesso.
Prezado J.P. , muito obrigado pelas reflexões listadas no texto!
Sabemos que a tecnologia veio para ficar e facilitar mas qual seria o seu palpite de profissionais ficarem dependentes exclusivamente da ferramenta e não deixar a criatividade fluir, digo pelo lado humanizado do processo num geral?
Eu acredito que as pessoas vão se acostumar muito rapidamente a trabalhar com AI. Esse mesmo tipo de questão surgiu quando veio a internet, quando veio a Wikipedia, quando veio o Google… As pessoas se acostumaram a trabalhar no dia a dia, a pesquisarem no dia a dia, já com essas tecnologias fazendo parte da vida delas e depois de algum tempo, ninguém ficou gastando tempo resistindo a essas coisas.
Penso que a IA vai acabar exigindo criatividade das pessoas de formas diferentes. Não acho que existe risco algum do ser humano ser tolhido de sua capacidade criativa, por mais que ele passe a usar tal capacidade em aplicações diferentes.
Você menciona formas distintas nas quais a IA vai transformar a creator economy e o marketing digital. Na prática, sinto que a maior dificuldade é decifrar, fazer o desenho de quais dessas transformações é a mais urgente — ou seja, aquela que os criadores, diretores e as empresas deveriam priorizar para a próxima reunião da segunda-feira.